sábado, 20 de fevereiro de 2016

E chove em Tapera VIII



— Eu achei que ia chover.
— O quê?
— Quando você me ligou. Eu até achei que ia chover. Quanto tempo faz mesmo?
— Não sei...
— Tempo demais. Faz tempo demais. Por que agora?
— Olha... Eu precisava cumprir uma das minhas promessas.
— Que você não vai me contar.
— Não. Não vou.
— Você continua com seus mistérios...
— Eu achei que você gostasse deles.
— E eu gosto. Ou melhor, gostava... É só que eu já me desacostumei. Quando você estava por perto era sempre um ponto de interrogação.
— E agora?
— Agora minha vida é só vírgulas. Só continuações e continuações, tudo sempre igual, a vida imersa na mesma rotina de merda. Muita coisa mudou sem você. Ficou sem graça.
— De repente foi porque crescemos.
— Não foi. Ou pelo menos não foi só isso. Era diferente. Lembra da história que você ia me entregar em partes?
— Aquela que você disse que não era minha...
— É... Olha, desculpa por isso.
— Eu terminei. Há uns oito anos eu terminei de escrever.
— Mesmo?! Eu posso ler?
— Acho que não... Ficou ruim.
— Você disse que aquela era a nossa história.
— Por isso.
— Sabe, eu não entendo porque você me chamou aqui.
— Porque eu não tinha ninguém mais a quem chamar. E eu precisava cumprir uma promessa, já disse.
— Eu tinha me esquecido de como pode ser intenso.
— O quê?
— Ficar perto de você.
— Digo o mesmo.
— Tá, mas e agora?
— Agora o quê?
— O que a gente faz aqui, e sem chuva ainda por cima?