domingo, 12 de outubro de 2014

Somos todos Peter Pan



Na verdade, não sei se algum dia nos tornamos adultos. Por enquanto, somos crianças crescidas e nossos medos cresceram junto com a gente.

Antes, era só o medo de um quarto escuro. Agora, é o medo da solidão que ronda.

Antes, era medo do que não conhecíamos. Agora, é o medo de tudo que sabemos existir. 

Antes, havia o medo do futuro, mas ele vinha sempre misturado com o desejo, com a expectativa. Agora, o bebemos puro.

Crescemos e demos corpo, vez e voz aos nossos medos todos. O medo de não ser aceito, de ser abandonado, de não saber o que fazer. Todos eles continuam, só que maiores.

Houve um tempo em que eu acreditei que um dia saberia as respostas. Hoje sei que não. Somos só crianças que fingem saber, como um dia fizeram os nossos pais. Crescer é isso também, é perceber que nossos pais continuam na infância, só que eles aprenderam a fingir que não.

Somos todos pequenos diante das inseguranças, somos ainda chorões diante da vida. Não sei se isso vai mudar algum dia. Nem sei se deve mudar. Afinal, que época melhor para morar do que a infância? Mas precisamos, isso sim, resgatar mais do que os medos. É estranho que os alimentemos e, no entanto, deixemos morrer a esperança, a expectativa, a fantasia que são, elas também, partes da infância.

É estranho que, podendo escolher só alguns brinquedos para a caixa de lembranças, tenhamos escolhido justamente os brinquedos quebrados. Está na hora de resgatar o que esquecemos. Está na hora de lembrar que ser criança é, sobretudo, ter fé. Que possamos resgatá-la, de algum sótão, de algum porão, de algum armário velho e trancado. Que possamos voltar a acreditar. Que possamos, mesmo que por um só dia, assumir a criança que fomos e tentar fazer com que cresça nela mais a esperança do que o medo. Não nos tornaremos adultos, é bem verdade, mas assim seremos, pelo menos, crianças felizes.

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