terça-feira, 30 de setembro de 2014

Só pela promessa

Continua a chover e eu saio novamente, dessa vez para ir ao correio. A chuva tamborila sobre o meu guarda-chuva e me lembra, estranhamente, o barulho de uma máquina de escrever. Vem, então, a vontade de compor outro texto qualquer.

Prometo a mim mesmo que o farei, quando voltar para casa. Por enquanto, caminho rápido enquanto sacolas de lixo voam para as esquinas, sem que eu veja de onde. No correio, eles já sabem o que me vem por pacotes semanais. Livros.

Eles sabem e os outros todos também. São os livros, sempre os livros. Já sou conhecido, desconfio, como “aquele dos livros”. É isso também um vício? Uma compulsão? Queria ser a metade do nerd que pensam que eu sou. Eu seria rico, então. E espertíssimo também. Não gosto tanto assim de estudar. (Só não contem isso aos meus alunos.) Eu gosto é de histórias para tardes chuvosas. Eu gosto é de saber mais e de viver vidas de tinta e papel.

A garoa, na volta, continua a datilografar sobre o meu guarda-chuva. E, de repente, eu compreendo que ela escreve muito melhor do que eu. Ela escreve poesia pura, do tipo que se sente e não lê. Já vejo de antemão que meu texto não será bom. Que melhor teria sido começar o livro que acabou de chegar. Sou aquele dos livros, afinal.

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