sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Questões do impossível

Descascar uma laranja. Esse era meu objetivo de vida quando eu era só uma criança. Aquele processo todo de girar a laranja, a faca, as mãos, o mundo.... me parecia nada menos do que impossível. Eu olhava admirado vendo aquela casca soltar-se e formar uma serpentina comprida e ininterrupta. Eu nunca seria capaz. Eu sabia.

Quando descasquei minha primeira laranja, parecia que eu nascera fazendo aquilo. Era um movimento automático, independente de mim, não exigia habilidade, esforço, esperteza, destreza. Exigia a laranja, a faca e as mãos. Só.

Muito tempo depois, na faculdade, eu definia que impossível seria saber algum dia as classes gramaticais todas, os tempos verbais, as classificações das orações coordenadas e subordinadas.... As professoras diziam tudo aquilo com uma naturalidade extraterrestre. Não me era concebível como um ser humano comum, eu, no caso, conseguiria saber tudo aquilo algum dia.

Hoje eu recito a classificação das palavras de um texto inteiro, sem nem respirar.

Isso tudo me fez pensar que o impossível é, às vezes, uma questão de tempo. O que hoje me parece inatingível amanhã poderá ser só natural.

Toda essa reflexão é para perguntar o seguinte: e agora, quando é que eu vou saber exatamente o que dizer? Quando eu vou resolver meus problemas de forma confiante e eficiente, sem parecer um retardado gaguejante? Quando eu vou saber a resposta certa para uma provocação, para um elogio, para uma delicadeza inesperada? Quando eu vou perder o sorriso sem graça? Quando eu vou deixar de lado o embaraço e a sensação de desamparo?

Algum dia também isso se consegue? Ou chegou a hora de eu descobrir que algumas coisas são mesmo impossíveis, não importando quanto tempo passe? Chegou a hora, Carlos, de aceitar que alguns nascerem mesmo para ser gauches na vida?

Se alguém souber, por favor, responda.

2 comentários:

  1. Tem coisas que se aprende, tem coisas que somos. Não são questões de impossível, são questões de escolha.

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  2. Carlos? Espero que seja o Chacal...

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