sábado, 3 de dezembro de 2011

Das lições como as de Bree Van De Kamp

Depois do último surto, ela voltou para casa com o que seria seu mais novo e belo e encantador normal. A partir da volta, seu bom dia tornou-se esfusiante, quase agudo. Ela passava o dia a cantarolar pela casa, enquanto fazia bolos de baunilha, tortas de amora e cookies de chocolate.

A roupa ela passou a perfumar com amaciante e a passar à ferro com cuidado, além de dobrar e colocar em seu lugar mais corretos. Os móveis brilhavam, só não mais que os copos de cristal. Tudo nela era sorriso e bondade e generosidade, depois do último surto.

As facas velhas, que por precaução continuavam escondidas, ela substitiu por novas. Todas com cabos decorados, lindas. Sobre a mesa da sala, sempre havia um buquê de perfumados lírios.

Não se ouviu uma reclamação, uma grosseria, um grito sequer, depois do último surto. Tudo nela era delicadeza e carinho e docilidade amestrada. O marido e os filhos estranharam, é verdade, mas agradeciam a deus todas as noite pelo que ela havia se tornado.

Depois do último surto, ela visitava com frequência os vizinhos e tinha amigos, até. Levava para eles um sorriso e doces em cestas com fitas. Fazia favores a quem pedisse e estava sempre disposta a ajudar mais alguém. A doar qualquer coisa para a caridade. A contribuir voluntariamente em o que quer que fosse. Prestativa ela ficou.

A vida passou a ser maravilhosa naquela casa, depois do último surto. Tudo se encaixava e tudo brilhava como na mais perfeita tarde de primavera. 

O que ninguém sabia. O que ninguém se preocupava em saber. O que ninguém descofiava era de que, por baixo de tudo, ela voltou com um plano, depois do último surto.


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