terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um amor conquistado

(Clarice Lispector)

"[...] Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar coisas, o que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: "mas, santo Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?" Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se diga melancólico, olhando as estrelas: "que tenho afinal? que me falta? sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então este vazio, esta nostalgia? que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço? [...]"

3 comentários:

  1. Gosto da Clarice, grande Clarice.

    Obrigado pela visita, passarei mais vezes por aqui.

    Gostei do Ira, quase um manifesto.

    abs

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  2. Clarice transforma as ideias mais absurdas em sensações tão palpáveis que impressionam.

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  3. Tbm sou fã dessa Clarice danada, que me encanta e me apaixona...

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