sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ira

À Ághata, com amor.

Às vezes a raiva é tanta que não consigo moldá-la em palavras. Sejam longas ou curtas, impossível sublimar nelas a besta-fera sentida. Não é raiva de se escrever pomposa. É ira de grito transfigurador, é sede de morder a carne e estraçalhar com os dentes os vermelhos nervos humanos. É fúria de quebrar os cristais centenários da sala verde, de jogar os livros e com eles estilhaçar vidraças. É ganas de destruir o humano e a máquina, sem julgamentos ou culpas ou distinções. É ódio azul e cego, de matar com as mãos e depois limpar tranqüilo o suor da testa. “Pronto. Foi-se. Acabou”.

É raiva de erguer tempestades cinzas de poeira e raios. É raiva que não permite, sequer, a pujança da chuva. É ira de abrir buracos no estômago, de estourar os tímpanos de pressão, de escurecer os olhos com venda negra. É ódio. É raiva. É fúria. É ira.

É revolta tamanha a ponto de me fazer até, por fim, chorar.

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