terça-feira, 9 de março de 2010

Meu amor, perdão.

Mesmo com as marcas das facas me abrindo a carne, eu te peço perdão. Ajoelhada, humilhada, sangrando até a alma, eu ainda te peço perdão. Perdão por ter feito você me cortar. Perdão por dar motivos para você, lentamente, poder me matar.


Peço perdão por chorar enquanto sofri, enquanto doía minha pele tão frágil. Deus sabe o quanto meu pranto te irrita, então perdão, meu deus, perdão. Mesmo com os cabelos arrancados - por tuas mãos - aos punhados, eu te imploro perdão. De vestido rasgado, olho esquerdo inchado, lábio por dentro cortado, perdão.

A mesma palavra sempre balbuciada sem força, atirada exangue, num fio de voz gotejante, o sangue pingando em tuas botas polidas, perdão, meu senhor, por sangrar e sujar a tua bota.Mesmo chutada com força no estômago, socada sem dó na parede, picada com a faca e a ferrugem, eu te peço perdão.

Perdão por não ter percebido antes que a errada não era eu. Por não ter notado que você era um imprestável medíocre, maldito e ferrado. Perdão por eu ter me submetido a ser tua mulher. Perdão, acima de tudo, perdão, por não ser eu a ter te matado, minutos atrás.

4 comentários:

  1. O texto de agora declara a liberdade prenunciada no texto anterior.

    Explico: quanto mais aprendo, mais inferior me julgo. Exigente que sou, me julgando inferior não escrevo.

    A partir de hoje, portanto, escrevo sem rótulos, escrevo como fazia quando ainda tinha a liberdade dos ignorantes.

    Há lados meus que abominam ver misturados ali o "tu" com o "você". Mas soa exatamente do jeito que quero soar. Então ao quê dou primazia? Às regras alheias ou aos meus sentimentos?

    Aos meus sentimentos.

    Fique o texto do modo que ficar.
    (embora eu ainda tenha resistido ao impulo de terminar com um "há minutos atrás". :p Vamos com calma, também...)

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  2. Eu também convivo com esse dilema do "tu" e "você", do escrever "para mim" ou "para ti", do me mostrar ou me esconder... Danem-se as pessoas e os pronomes :)
    A única concordância que deve haver é entre o que pensamos e o que escrevemos...

    Belo texto, forte na medida!

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  3. O texto está muito bem escrito...
    Quanto á concordãncia entre tu e eu...é uma questão que já atormentava Clarice Lispector em seu "Agua Viva"...assim como o exercício de escrever o que vem à mente...esse livro dela é bárbaro...parece que lemos no momento exato em que ela escreve...
    Parabéns pelo belo texto...pelas dúvidas...
    beijo
    Leca

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  4. Maravilha!
    vou passar a seguir o "menino" ;)
    e obrigada por ter passado pelo meu Alentejo..

    Z

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