segunda-feira, 29 de março de 2010

Escondido

Para Mr. W.G.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.
Lá vou eu, quem não se escondeu é meu!

Você abre as pálpebras, ofuscando com a luz. São três horas da tarde e a sua rua é, de repente, toda deserta. Os outros se esconderam em lugares inimagináveis, quiçá para sempre.

Você anda sozinho. Olha atrás de árvores magras, dentro do estômago de casas destruídas, atrás de muros altivos, todos eles pintados de festa. Nada. Corre de volta para o poste, em armadilha de fazer alguém se entregar, mas ninguém se entrega a você. Sua cabeça, automaticamente, se cabisbaixa. Seus pés procuram pedregulhinhos para chutar.

Sozinho na tarde é que eu venho. Você, no entanto, não sabe que eu também estou a brincar. Na dúvida entre o rosto e o nome, você não pode correr e gritar: “Um dois três pro Fulano!” Você não sabe se sou Fulano.

Mas eu sou. Sou e olho, divertido, você se escondendo de mim. Sozinho na rua, com amigos fugidios. Nos encaramos muito que levemente. Eu não sorrio também. Não sou besta de me entregar tão assim, gratuito. Finjo acreditar que você não me conhece. Finjo até acreditar que eu também não me conheço. Se você me tocasse saberia, eu não desapareço no ar. Se você tentasse não precisaria ter que voltar a fechar.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.
Lá vou eu, quem não se escondeu é meu!

Eu não me escondi e nem assim você me achou.

2 comentários:

  1. Na vida, as pessoas se escondem muito mais longe do que aqueles esconderijos que existiam na infância.

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  2. Adorei este aqui, incrivel como quem queremos q nos encontre, na realidade nem repara um minimo na gente ..

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