segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Última Dança

"Até o baile acabar com a rainha"

Mas e depois? Chorar quando acaba o baile já não serve, não encanta. Correr já nem agrada.
Deixa-se ficar então, estátua estática, palanqueada entre os vazios dançantes do salão.
Deixa-se ficar entre as fitas coloridas decaídas, os balões doloridos de murchos, as flores pisoteadas e a poeira que se acumula.
Deixa-se ficar remoendo os restos, olhando saudosa para tudo que ainda resta daquela festa impossível de acontecer. Porque de todas ela não dançou.
Deixa-se ficar e estar ali quando os primeiros sóis penetrarem nas janelas poluídas, iluminando o rosto borrado de lápis azul. Deixa cair os braços nos tons de uma música triste, aquela que há muito já nem existe.
Deixa-se envelhecer assim, na cena congelada, enquanto decai todo salão, enquanto o tempo abre brechas no telhado e os ventos entoam a solidão.
Deixa-se, enquanto o vestido apodrece e cai às mechas, quem sabe a noite lave as manchas. Quem sabe as horas enruguem a diadema.
Deixa-se, porque no seu salão sempre foi fim de festa.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.