sábado, 31 de janeiro de 2009

Onde?

“Eu entendo a noite como um oceano
Que banha de sombras o mundo de sol
A aurora que luta por um arrebol
De cores vibrantes e ar soberano”


Onde está a banda que costumava inspirar seu rock pesado em minha poética adocicada?
Onde está o séqüito de meninas suspirosas que desejavam cada texto lhes pertencendo?
Onde está a legião que vinha implorar o meu suicídio e macular de polêmica minhas inocências?
Onde está a lista de tantos contatos dos que falavam-se fãs do que eu escrevia?
Onde está o contador de comentários cheio de elogios, cheio demais de mim?
Tudo secou, tudo morreu, tudo se foi.
Deixou saudade.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Post Confuso

"Non-stop"

Post Confuso, já nem eu lembrava mais o que era isso. Hoje ganhei uma sala nova na empresa onde trabalho. Uma sala só minha que todos fizeram questão de ver. Todos mesmo. A cada minuto chegava alguém, me olhava pela janela, entrava, fazia algum comentário... Juro, eu me senti um animal no zoológico com tanta gente me observando. Só faltou mesmo aquela placa: “Atenção: não alimente os animais!” Eu preciso escrever. Mais do que nunca, mas como se falta tempo principalmente espaço. Como escrever se tudo me consome, tudo me devora, tudo me exige, tudo me apressa e tudo me aperta? Eu preciso de vãos, de vazios, de momentos deitado sem nada por fazer. Eu preciso da solidão, do encanto existencial, eu preciso me perceber, eu preciso do meu egoísmo. Será que sou tão ruim quanto insistem em me pintar? Por que eles tentam me convencer de que sou? E por que será que eu acredito? Agora que tenho um notebook qual será meu próximo sonho de consumo? Necessidades, necessidades... E o essencial me escapa. Vontade de desmaiar no meio da tarde, de propósito, sabe. Sentir o corpo na queda livre para o asfalto. Teria sido bom. Post confuso, para quem nunca viu, é isso. Uma miscelânea, quase um fluxo de consciência. Filmes, livros, versos, cartas, minha cara, onde se escondeu a inspiração? Sorte, designo divino, o que, afinal, faz alguém ser escolhido para ter tudo na vida? Muitas perguntas hoje, muitas perguntas. Quase todas elas tristes, vejam só. Posts confusos costumavam ser animados e menos indagadores. Quase enchi uma página (de word) com bobagens. E como anda a tal reforma ortográfica? Eu ainda não topei com ela por aí. Nem quero. Enquanto puder eu prefiro fingir que ela não aconteceu. Vou ser como daqueles tiozinhos ultrapassados que ainda escrevem “êle", e com orgulho. Semestre novo quase começando, estágios, pavores e suores noturnos. Monografia e Clarice me olhando impaciente. Calma, Clarice, calma, eu ainda decido qual aspecto seu eu vou abordar. Nem que para isso precise de ajuda. Saudade dos trabalhos passados, saudades dos anos passados, saudade das aulas passadas. Eu não era mais feliz, mas tinha mais tempo livre para mim. Egoísta. Sempre fui. Filho único, isso explica muita coisa. Sem mais vontade de escrever, agora vou caminhar. Talvez o segredo esteja em esgotar o corpo, em cair na tarde, em rolar no asfalto. Beijo.



PS: Não julgue este blog por este post. Leia os outros se você quiser conteúdo. Posts Confusos são meus desabafos, minhas lixeiras, onde jogo fora os pensamentos que estão sobrando na minha mente. Quase penseiras, para quem lê Harry Potter. Arte Moderna, para quem franze o nariz.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Às asas de um anjo

"Hay cosas que te ayudan a vivir
No hacías otra cosa que escribir
Y yo simplemente te vi"


E o que isso muda para mim?
Tudo.
Agora eu posso escrever no céu aberto e na grama verde. Posso escrever no ônibus escuro e na pedra fria.
Agora eu escrevo olhando as pombas se banharem no jardim, escrevo vendo a chuva cair do mesmo lugar onde sentava quando era criança.
Agora desabafar é mais fácil.
Eu escrevo ao som rangido de duas rodas de bicicleta, ao o canto dos pássaros e às vozes das gentes distantes.
Eu escrevo longe. Longe dos ditames daqueles demônios que prendo no meu quarto. Longe dos meus fantasmas tão caros e vergonhosos.
Escrevo enquanto o orvalho seca nas folhas, enquanto o vento sussurra nas árvores e enquanto o dia cai lentamente.
Agora eu escrevo no negro da noite e nos dedos da lua. Eu posso escrever ouvindo as estrelas e o barulho dos grilos.
Eu escrevo usando as lágrimas, escondendo meus gritos.
Porque a vida, velho sonho de menino, agora volta com mais sentido, quando escrever é tudo que posso, é tudo que quero, é tudo que faço.



terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O ciclo das águas paradas

"Cold, cold water surrounds me now...”

Foram tantas gotas d’água que o balde já esvaziou de tanto transbordar. Um pouquinho a cada dia, a água começou a molhar meus pés. Quando cobriu minhas mãos, eu até tentei nadar, mas sou fraco e entreguei-me às ondas de marasmo.
Agora que a água cobre a cabeça e a gota eterna me racha as asas, é hora de sair daqui. É hora de deixar o aquário e nadar no lago, no rio, no mar...
Tudo que não posso é me afogar.
Não mais.
Não de novo.
Não aqui.



segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Seco Eco

"De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa"

Eu sempre a confesso, embora hoje minha tristeza me envergonhe, mais do que me orgulhe. Porque minha tristeza é vazia e tem o peso exato de tudo aquilo que não carrego.
Minha tristeza chora dúvidas e soluça incertezas, como posso eu consolá-la se os vazios são tantos dentro de mim?
Às vezes o vazio é tudo e somente o eco é a resposta, uma resposta diferente da que a gente procura. Eu tento falar com Deus, mas acho que esqueci o número. Acho que não posso ser como todo mundo que pede as coisas e tem esperança de ser atendido.
Minha esperança é fraca, mirrada, quase vã e isso me choca.
Trago estes olhos assim, arregalados, em um deserto de noites torrenciais, eu poderia beber toda esta água e ainda estaria seco por dentro. Minha secura me incomoda, me deixa sem sono, amplia a imensidão do vazio que é minha tristeza.
O que me prende é o pouco que andamos e o nada que esperamos.
O que eu choro é o que nunca será.
E se não tenho lágrimas, perdão, porque toda minha tristeza é só ausência.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Saudade, saudade...

"E que o passado não passe assim... sem você"

Sou do tempo em que blog era coisa de menina, não de ministro.
Que saudade da época onde blog era aquela coisa rosa, cheia de gifs coloridas e piscantes, trazendo frases feitas de efeito e bem pouco conteúdo.
Sinto saudade porque lá eu era avistado.
Lá eu fazia a diferença, com meu blog soturno e quase poético.
Agora blog é coisa de ator, cantor, locutor, diretor, catador, político e prostituta.
Sem contar, meus caros, nos falsos literatos e aspirantes a escritores.
No lugar das gifs vieram os anúncios, blogs viraram fonte de renda, veículo de divulgação, meio de comunicação e têm tantos outros atributos que divergem totalmente da fonte principal.
Sou antigo, antiquado, ultrapassado, lá do tempo em que se faziam as coisas por amor e se colocava acento na palavra idéia. Sou da época em que blog era diário e as meninas mendigavam um comentário.
Tantos blogs de famosos, todos tão bem visitados, todos comentando na esperança de serem vistos por seus ídolos. Pensem só, o ator da Globo hoje leu um comentário meu. Leu meu nome, sabe de minha existência!!! Estou cansado de vocês.
Queria os blogs ainda anônimos, cheios de gente estranha e desconhecida que se uniam em teias de conforto.
Agora estou sozinho...



Ah, mas esqueçam tudo isso que o quero não conta, é a dita da evolução.
E só para avisar, esse foi um canto em prosa do que eu falei ontem em verso (no post abaixo).
Afinal, quem vocês acham que é B.L.G?
Basta que se coloque uma vogal.

Pode parecer estranho, mas cada vez que leio aqueles versos, os ouço cantados.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Versos tristes a B.L.G.

É triste...

Hoje todo mundo te tem,
antes não eras de mais ninguém,
só meu.

É triste te ver em outras bocas,
no passar de outros dedos,
no brindar de outros olhos
ou no cair de suspiros não meus.

Ainda antes eu poderia ser especial,
por brincar com teu mel,
me escorrer de prazer.

Agora, já todos te olham,
te brincam e exploram,
quase não és meu.

Viraste michê,
vagabundo,
danado e imundo,
cobrando cachê.

E hoje já nem me visitas,
evitas minhas fitas
à máquina de escrever.

E hoje tua mão é impura,
já não imploro candura,
estou afim de viver.

Por mim eu sumia no mundo,
de pena e tinteiro,
pluma de travesseiro,
pra nunca mais te ver.

Mas hoje te vejo contente
desfilando outra gente,
minha falta nem sente,
me mira de lado.

Quando me olhas
é assim estressado,
já quase cansado,
quer me esquecer.

Esqueça rápido então
aquele meu coração
que te ama,
uma alma que é chama
e queima por te querer.


terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Traduza-me, ou te devoro

"Como é que eu vou poder cantar se a minha dor está envergonhada, está fora de moda, está parada pra pensar.
Como é que eu vou contar as minhas tristezas se elas estão tão enroladas que nem eu mesma sei.
O que foi que restou da minha vida?
Onde estão as minhas mágoas?
Onde é que eu estou?
Será que eu vou ter que cantar a tristeza dos outros, tendo tantas que são minhas?"



segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Cigarra e a Formiga

“Menino sonha com coisas que a gente cresce e não vê jamais”

Voltamos.
Cabeças baixas, mas sem o cuidado de não pisar nos fios da calçada.
Voltamos.
E voltamos sem caminhar por cima dos muros, sem pular nos gizes da amarelinha, sem juntar a revistinha no chão.
Viemos esfregando o sono nos olhos, carregando nos ombros o peso da noite e sem reparar nas placas dos carros.
66 sorte!
Cruzamos primeiro o portal, depois a porta e mais duas até chegar à mesa.
Chegamos.
Chegamos adultos e enfáticos, viemos mudos e sorumbáticos, mas voltamos.
Voltamos apesar de saber que aqui somos mais infelizes.
Viemos, mas ainda olhamos cuidadosos para a porta que sai.
Chegamos, até na mesa, onde na terceira gaveta nascem todas as amarguras.
Ah, as amarguras, descascam dos ovos ainda brancas e verminhas, entre os papéis e os lixos. Amargurinhas rastejantes que se esvaem pelo buraco que deixou a fechadura e sobem nadando em rios de pó no ar.
Elas vêm, todas elas, penetram na pele e nos arrancam primeiro o sorriso, depois a vida. Lentamente, bem lentamente.
Foi para cá que voltamos?
Foi para isso que viemos?
Foi assim que chegamos?
É... Acho que foi.






PS: Reforma Ortográfica é o cacete!