quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dia

"Desafiei o medo de não aguentar"




O dia é tão lindo que você não sabe o que fazer dele.
Por quantos séculos tudo que você desejou era ter o dia livre e aproveitá-lo? Todas aquelas manhãs vazias, todas aquelas tardes intermináveis, as horas lentas sendo devoradas por papéis de letrinhas miúdas.
Agora você tem o dia, o dia é lindo e você não sabe o que fazer com ele. O céu ainda é de um azul esbranquiçado, típico de quando o sol ainda se espreme belo no horizonte, tentando nascer. O céu é papel esperando o que você vai escrever.
Que angústia não ter onde encaixar um céu assim.
Talvez você pudesse caminhar à tarde no bosque, talvez pudesse experimentar a fotografia, talvez pudesse regar os projetos atrasados, talvez pudesse cuidar da vida que passa, talvez pudesse ir à cartomante grená, talvez pudesse escrever um conto de mágica, talvez...
Você mofa. Lenta e secamente, mas mofa.
O dia é tão lindo, e o que fazer, meu Deus, de um dia tão lindo?
Você esqueceu. Na infância aposto que você sabia, mas já esqueceu.
O dia é tão lindo, todo seu, e você?
Você lê, quem sabe, largado com displicência em uma cama que necessita de ordem. Ah, você deveria deixar tantos livros lá para a velhice. O que vai fazer quanto tiver todos os séculos que a sua mão premune e já tiver lido tudo que se escreveu no mundo? Você lê e você dorme.
Você caminha sobre o muro, olha o sol tão azul que dói. O dia todo, tão lindo, que dói.
A areia passa grossa no furo da ampulheta. Quando você percebe por acaso já é ocaso. Já não há tempo de beber do dia. Vem a noite, noite de dormir...
Mas amanhã será mais um dia....
E o dia será tão lindo que você não saberá o que fazer dele.
Talvez a isso chamem de depressão.

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