terça-feira, 30 de setembro de 2008

Um vão

"Perder o vazio é empobrecer"

Há um dia em que é preciso não tirar a roupa, sequer os sapatos, ao chegar em casa.
É preciso ignorar o banho, tão tocar no queijo nem beber do vinho.
É preciso não fechar a janela, esperar a noite entrar e ouvir o cantar dos pássaros, sem saber a letra por trás da melodia.
Há um dia em que é preciso não ligar o rádio, não conectar a internet, nem tirar fotografias.
É preciso não escrever nenhum texto, não expor nenhuma pintura e nem estudar para tantas provas.
Experimente: é preciso apenas deitar na cama, sem deixar os olhos abertos e sem dormir também.
É preciso ouvir o mundo lá fora, sem ser parte dele. É preciso esquecer os problemas, ignorar as compras, os projetos, os planos.
É preciso não lembrar que temos família, que temos amigos e que temos dor nas costas.
É preciso tirar os óculos e esquecer onde colocamos. Ver não é preciso.
É preciso ficar, sem objetivos, sem méritos, sem promessas.
É preciso não ler a pilha de livros, é preciso não terminar o trabalho com prazo vencido.
É preciso não usar nenhum travesseiro, sequer tocar no edredom e lençóis. Alguns dias é preciso até deitar no chão.
É preciso não pensar sobre o que fazer com os pés ou com as mãos.
Não falar, não cantar, nem pensar é preciso.
Há um dia em que é preciso
morrer; pelo simples prazer de sentir-se vivo.

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