quarta-feira, 23 de julho de 2008

Efêmero

A tia da limpeza esfregava sua solução multi-uso (sapólio e álcool, a mesma usada para limpar os sanitários, lavar as toalhas, lustrar o assoalho, arear as panelas, dar brilho aos azulejos, limpar os vidros e, dizem as más línguas, fazer o café) no quadro branco de PVC.
Com isso ela pretendia tirar as fitas adesivas coloridas que, com muito trabalho, um ano antes tínhamos colocado para montar uma tabela de indicadores. Naquele período parecia fundamental ter esta tabela na empresa.
Você já pensou em quanto a vida é efêmera? Onde estará sua certidão de nascimento, daqui 100 anos? Ah, por favor, eu nem sei onde guardo a minha.
Você passa oito horas do seu dia em um escritório. Preenche formulários, faz relatórios, laudos importantíssimos, se estressa ao máximo e em seis meses estes documentos todos estarão na caldeira da empresa.
Você dorme só duas horas por dia, vira a noite fazendo o trabalho de faculdade, consegue terminar um dia depois do prazo, a professora já avisa que não vai valer tanto quanto o dos outros. Ok, mesmo assim, é o melhor trabalho que você já fez na vida. Uma semana depois a mestra devolve: Sinto muito, tive que te dar só 7, você esqueceu de mencionar os castores alados marroquinos, você não percebe a ligação entre eles e os pingüins hermafroditas escandinavos? Não, você não percebe, mas não importa, no próximo semestre o trabalho é só mais um monte de papel inútil.
Mais uma vez, sou obrigad a concordar com a Rita Lee:


O ovo frito, o caviar e o cozido
A buchada e o cabrito
O cinzento e o colorido
A ditadura e o oprimido
O prometido e não cumprido
E o programa do partido
Tudo vira bosta...

O vinho branco, a cachaça, o chope escuro
O herói e o dedo-duro
O grafite lá no muro
Seu cartão e seu seguro
Quem cobrou ou pagou juro
Meu passado e meu futuro
Tudo vira bosta...

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...

Filé 'minhão', 'champinhão', 'Don Perrinhão'
Salsichão, arroz, feijão
Mulçumano e cristão
A Mercedes e o Fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e meu tesão
Tudo vira bosta...

O pão-de-ló, brevidade da vovó
O fondue, o mocotó
Pavaroti, Xororó
Minha Eguinha Pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta...

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...

A rabada, o tutu, o frango assado
O jiló e o quiabo
Prostituta e deputado
A virtude e o pecado
Esse governo e o passado
Vai você que eu 'tô cansado'
Tudo vira bosta...

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...


2 comentários:

  1. Utilizo a efemeridade em situações estressantes com a seguinte pergunta: "- Qual a repercussão disso daqui a um ano?". Acabamos concluindo que pouca coisa realmente merece nossa preocupação...

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  2. Importancia é tão relativo.. acredito que o que é efemero pra algumas pessoas pode ser eterno pra outras.. não somente em sentimentos...
    Mas, quem sabe afinal o que é importante de fato?
    É complexo...

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