sábado, 26 de janeiro de 2008

Silêncio

- Olá.

- Ah, oi. Você?!

- É...

- Quanto tempo... Por onde andaste?

- Viajando... A negócios. Precisei tratar de alguns assuntos fora do reino, com um mercador de escravos.

- Hum... Entendo.

Ela poderia ter dito que sentia sua falta, ter-lhe abraçado, deixado toda sua angústia virar água e libertar-se em lágrimas. Mas Clarissa não era dada a essas coisas. Não podia. Não com ele.

­ E você, o que me contas de novidades?

Ele poria ter dito que só voltou por causa dela, que todas suas voltas sempre foram por ela. Não, não podia. Não agora.

Mantinham-se na beira da estrada e o silêncio dominou a paisagem, caiu como algo pesado e dificultou tudo mais. Os olhos se encontraram e disseram o que as bocas trancavam. Três séculos se passaram e nada aconteceu naquele pôr-do-sol.

- Linda...

- Como?

- Lindas as flores. Isso, as flores ali.

- Ah... São mesmo.

Eram pequenas e brancas, com forma de estrela. Tingiam-se de laranja com as matizes do poente. Não era das flores que ele queria falar. Não era sobre as flores que ela queria ouvir.

Foram sempre assim, tanto para dizer... e falavam tão pouco, sobre eles.

Amavam-se? Talvez nunca souberam, porque fenesceram assim como as flores mais delicadas e os castelos de pedra mais bruta.

Dizem que nas noites sem lua ainda voltam, eternamente. Encontram-se e novamente não dizem nada. Talvez tenham medo do amor ser platônico. Mentira, sabem que não é. Talvez tenham medo do que os outros possam dizer. Mentira, ninguém mais os vê.

Talvez tenham se condenado à espera muda de um amor que poderia ter transformado suas vidas, alegrado seus dias e um dia, salvado suas almas.

Ao inferno então.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Ponto

Vem, vamos embora daqui. Este não é um lugar para pessoas como você e eu. Há um céu que sempre é azul e no centro dele aquela bola de fogo que mata aos poucos pessoas e animais. O calor faz com que o ferro se retorça nas cercas e as galinhas já botem os ovos cozidos. Nada por aqui é muito normal, nem muito comum. Das camas nas calçadas até os trens coloridos que passeiam pelo asfalto. Por aqui, já notaste?, há pessoas que não sorriem. Mas tenha uma certeza, se algum dia amanheceres morto procure entre as que mais lhe eram afáveis o assassino. Não conhecem palavras como verdade, sinceridade, lealdade, me juraram eles. Há aqueles que sempre erram e, pasme, pessoas que são per-fei-tas. Não, não, não. Para mim basta. Carregue tuas coisas, faça tua mala, a minha está pronta. Não leve nada mais que permita uma fuga na madrugada. Vem, aperta o passo, porque já vamos tarde demais.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Só hoje...

Agrada-me um lugar ao palco, ser protagonista dos teus sonhos, diamante solitário em teu dedo. Mas de repente sempre estamos contracenando com uma verdadeira trupe... Da qual já nem me sinto mais parte. Viro platéia então. Não gosto de dividir, egoísmo, a melhor das manhas de quem cresce só.
Sou teu inteiro, te tenho em partes.
Saudade de quando o negro dos teus olhos viam apenas o mel dos meus. Hoje há tanto para olharem que o mel aos poucos açucara e já não mais o querem.
Saudade das tardes em que me perdia desenhando os traços teus. Sem que eu precisasse ser engraçado com as visitas e sorrir de volta. Amo-os também, aqueles que vêm. Mas em menor medida e menor necessidade. De ti preciso como de minha vida. Essencial, para um menino que hoje se sente só. Um solitário, que nada tem de diamante.
É quente, e eu odeio calor. Fiquei trancado para fora de casa, mas disso você nem sabe. Tive um dia péssimo e cheio de um trabalho que odeio. Queria te abraçar no fim da tarde e tudo ficaria bem então. Deitados, nus em sua cama, enquanto a claridade diminuía pela janela. Talvez adormeceríamos juntos, sentindo a noite... Depois acordaríamos, também juntos, com novas ânsias de amar, de sentir nossos corpos juntos...
Mas eles vêm, cada vez vêm mais.
Desculpa escrever, mas é minha outra maneira de chorar.

Só Hoje
(Jota Quest)

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal...
Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar a boca de um jeito que te faça rir
(que te faça rir)

Hoje eu preciso te abraçar...
Sentir teu cheiro de roupa limpa...
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz!

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua!
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria...
Em estar vivo.

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar...
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia...
Que eu faço tudo errado sempre, sempre.

Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje